sábado, 18 de maio de 2013

Lições de Gustave Thibon


Porque sou Cristão?


Porque tenho fome de um Deus que não seja nem pura treva, nem eu mesmo, de um Ser que, embora intimamente parecido comigo, seja também tudo o que me falta.
Porque neste mundo quero abençoar tudo, sem nada divinizar.
Porque quero conservar ao mesmo tempo o olhar claro e o coração em chama.
Porque sinto que a aventura humana se dirige a algo diferente e melhor do que um desespero sem conteúdo, do que uma interrogação sem resposta, do que uma inércia vazia de sentido.
Porque quero conciliar a imensidade de amor que há em mim, com o desencanto tantas vezes provocado pela presença do homem.
Porque preciso de luz no mistério, e de mistério, na luz.
Porque quero ter, não só a força de construir e de viver, mas também a outra, que a transcende, de esperar, mesmo no desmoronamento e na morte.
Mas, se espero tudo, se creio tudo, como diz São Paulo, será apenas para tornar a vida mais suportável e para ser consolado? Sim. Também destas pequeninas necessidades pessoais se trata, quando nos sentimos ligados a todo o universo, responsáveis por todo o universo!
Na verdade, é a minha paixão do mundo que me faz cristão. É o meu respeito e a minha gratidão para com este destino que me sustenta e que se não identifica comigo.
Não me amo bastante, para escolher no céu um Deus conforme os meus desejos, mas amo bastante a vida, para não a julgar infinitamente bela, plena e justa, para não a confundir radicalmente com o Deus dos cristãos.
É como se vê, a transposição da aposta pascaliana, do sujeito para o objeto.

Fonte: "A escada de Jacob", Editorial Aster, Colecção Éfeso


Fundamento vital da liberdade

Paradoxo curioso: quanto mais enfadonhos e vazios são os "prazeres" que obtemos do pecado (e penso aqui de modo especial na luxúria), menos sabemos resistir às nossas paixões; quanto mais no desilude o nosso ídolo, mais fatal é a nossa escravidão. Mas isso só aparentemente é para admirar. O homem de prazeres mortos é demasiado pobre para ser livre. A sua vontade já não encontra, nos recursos amortecidos da sua vitalidade, o ponto de apoio, o tensor material indispensáveis para o seu exercício. A mesma ausência de tonalidade afetiva que faz incolores os seus prazeres, torna irresistíveis os seus impulsos. Aquele que julga pecar "fatalmente" (excetuo certos casos, hoje raríssimos de êxtase sexual), peca por ninharias. Um pecado verdadeiramente saboroso só pode ser um pecado profundamente escolhido. Este esfacelamento progressivo da voluptuosidade e da liberdade é, porém, a consequência normal da mecanização da humanidade. Também uma máquina é tão incapaz de escolher os seus movimentos como de neles experimentar prazer...

Fonte: “O pão de cada dia”, Editorial Aster, Colecção Éfeso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário