João PAULO II
A família é a célula primaria da sociedade. Está assentada
na sólida base do direito natural, que une todos os homens e todas as culturas.
Urge tomar consciência deste aspecto que me proponho seguir tratando nos
próximos domingos. Com efeito, com freqüência se interpreta equivocadamente a
insistência da Igreja na ética do matrimonio e da família, como se a comunidade
cristã quisesse impor a toda sociedade uma perspectiva de fé valida somente
para os crentes. Isto se tem visto, por exemplo, em algumas reações ao
desacordo que manifestei abertamente, quando o Parlamento europeu pretendeu
legitimar um novo tipo de família, caracterizada pela união de pessoas
homossexuais.
Na realidade o matrimonio, como união estável de um homem
e de uma mulher que se comprometem a entregar-se reciprocamente e se abrem à
geração da vida, não é só um valor cristão, senão também um valor originário da
criação. Perder esta verdade não só é um problema para os crentes, senão também
um perigo para toda a humanidade.
Hoje, por desgraça, se difunde um relativismo que leva a
duvida inclusive da existência de uma verdade objetiva. Escuta-se o eco da
conhecida pergunta que Pilatos fez a Jesus: “Que coisa é a verdade?” (João
18,38). A partir deste ceticismo, se chega a uma falsa concepção da liberdade,
que pretende eximir-se de todo limite ético e reformular, segundo o seu
arbítrio, os dados mais evidentes da natureza.
Certamente, o homem descobre sempre a verdade de modo
limitado, e pode definir-se como peregrino da verdade. Mas isto é muito
diferente do relativismo e do ceticismo. Com efeito, a experiência mostra que
nossa mente, ainda que esteja ofuscada e debilitada por muitos
condicionamentos, é capaz de captar a verdade das coisas, pelo menos quando se
trata dos valores fundamentais que tornam possível a existência dos indivíduos
e da sociedade. Ditos valores se impõe à consciência de cada um e são um
patrimônio comum da humanidade. Não se apela a este patrimônio comum quando condena
os crimes contra humanidade, ainda quando estejam respaldados por algum
legislador? Na realidade, a lei natural, precisamente por que Deus a esculpiu
no coração, é anterior a qualquer lei promulgada pelos homens e é a medida de
sua validade.
João Paulo II, Meditación
mañana el domingo 19 de junio, L'Osservatore Romano, edición semanal en
lengua española, año XXVI, núm. 25 (1.330), 24 de junio de 1994.
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