sábado, 18 de maio de 2013

Família e Direito Natural


João PAULO II

 A família é a célula primaria da sociedade. Está assentada na sólida base do direito natural, que une todos os homens e todas as culturas. Urge tomar consciência deste aspecto que me proponho seguir tratando nos próximos domingos. Com efeito, com freqüência se interpreta equivocadamente a insistência da Igreja na ética do matrimonio e da família, como se a comunidade cristã quisesse impor a toda sociedade uma perspectiva de fé valida somente para os crentes. Isto se tem visto, por exemplo, em algumas reações ao desacordo que manifestei abertamente, quando o Parlamento europeu pretendeu legitimar um novo tipo de família, caracterizada pela união de pessoas homossexuais.
Na realidade o matrimonio, como união estável de um homem e de uma mulher que se comprometem a entregar-se reciprocamente e se abrem à geração da vida, não é só um valor cristão, senão também um valor originário da criação. Perder esta verdade não só é um problema para os crentes, senão também um perigo para toda a humanidade.
Hoje, por desgraça, se difunde um relativismo que leva a duvida inclusive da existência de uma verdade objetiva. Escuta-se o eco da conhecida pergunta que Pilatos fez a Jesus: “Que coisa é a verdade?” (João 18,38). A partir deste ceticismo, se chega a uma falsa concepção da liberdade, que pretende eximir-se de todo limite ético e reformular, segundo o seu arbítrio, os dados mais evidentes da natureza.
Certamente, o homem descobre sempre a verdade de modo limitado, e pode definir-se como peregrino da verdade. Mas isto é muito diferente do relativismo e do ceticismo. Com efeito, a experiência mostra que nossa mente, ainda que esteja ofuscada e debilitada por muitos condicionamentos, é capaz de captar a verdade das coisas, pelo menos quando se trata dos valores fundamentais que tornam possível a existência dos indivíduos e da sociedade. Ditos valores se impõe à consciência de cada um e são um patrimônio comum da humanidade. Não se apela a este patrimônio comum quando condena os crimes contra humanidade, ainda quando estejam respaldados por algum legislador? Na realidade, a lei natural, precisamente por que Deus a esculpiu no coração, é anterior a qualquer lei promulgada pelos homens e é a medida de sua validade.

 João Paulo II, Meditación mañana el domingo 19 de junio, L'Osservatore Romano, edición semanal en lengua española, año XXVI, núm. 25 (1.330), 24 de junio de 1994.

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