G.
K. Chesterton (1874-1936)
A coragem é quase uma contradição nos
seus termos. Significa um forte desejo de viver, que toma a forma de uma
absoluta prontidão para morrer. “Aquele que perder a sua vida salvá-la-á” este
não é um lema de misticismo para santos e heróis, é um conselho diário para
alpinistas e marinheiros. Podia estar impresso no guia do alpinista ou num
manual de instrução militar.
Este paradoxo é todo o princípio da
coragem, mesmo que se trate de uma coragem absolutamente terrena ou de uma
coragem absolutamente brutal. Um homem isolado pelo mar poderá salvar sua vida,
se arriscá-la, lançando-se ao precipício. Ele só pode escapar da morte,
aproximando-se continuamente dela, até que reste apenas uma polegada de
distância. Um soldado cercado pelos inimigos, se quiser salvar-se, precisa
combinar um forte desejo de viver com uma extraordinária despreocupação em
relação à morte. Não deve, apenas, agarrar-se à vida, pois, nesse caso, seria
um covarde e não escaparia. Não deve, tampouco esperar pela morte, pois seria,
então, um suicida e também não escaparia. Deve procurar a vida com um ímpeto de
furiosa indiferença para com ela; deve desejar a vida como quem deseja água e,
no entanto, deve beber a morte como quem bebe vinho.
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